História

A fundação e o espírito tigre

A primeira direcção. Da esquerda para a direita: Alberto Brito (2.º secretário), Joaquim Moreira da Costa Júnior (1.º secretário), Joaquim Gomes dos Santos (Presidente), Mário Valente (Vice-Presidente) e José Martins (Tesoureiro)

A primeira direcção. Da esquerda para a direita: Alberto Brito (2.º secretário), Joaquim Moreira da Costa Júnior (1.º secretário), Joaquim Gomes dos Santos (Presidente), Mário Valente (Vice-Presidente) e José Martins (Tesoureiro)

O Sporting Clube de Espinho (SCE) é fundado a 11 de Novembro de 1914. O clube mais representativo da cidade e do concelho foi a 27.ª agremiação desportiva a ser criada em Portugal para a prática do chamado desporto-rei.

Com uma vocação eminentemente ecléctica, o SCE já praticou ao longo de um século de vida inúmeras modalidades, como Andebol, Atletismo, Badminton, Basquetebol, Boxe, Ciclismo, Culturismo, Damas, Futebol, Futsal, Ginástica, Hóquei em Patins, Karaté, Natação, Pesca Desportiva, Ténis, Ténis de Mesa, Tiro à Bala e Voleibol. Na década de 80 do século passado, foi considerado o quarto clube português mais ecléctico, feito verdadeiramente notável se atendermos à dimensão do concelho.

Ao longo dos anos, o clube criou uma mística própria: esse espírito tigre e essa raça vareira manifestam-se de diversas formas numa entidade que soube crescer, sem distinções políticas e sociais. Ao lado dos atletas valorosos estiveram sempre os grandes dirigentes e os beneméritos, como Joaquim Moreira da Costa Júnior, Mário Valente, Domingos Oliveira, Lito Gomes de Almeida, Carlos Padrão e o Comendador Manuel de Oliveira Violas.

 Um histórico do futebol

O SCE é um histórico do futebol português, modalidade que pratica ininterruptamente desde a sua fundação, em 1914. As gentes de Espinho dedicaram sempre uma grande afeição a esta modalidade. O clube foi sócio-fundador da Associação de Futebol de Aveiro, em 1924. Na época de 1924/25, o SCE alcançou as meias-finais da Taça de Portugal (então Campeonato de Portugal), vindo a ser eliminado pelo FC Porto, que ganharia a competição.

Enchente no estádio

[Enchente no estádio]

Cândido de Oliveira, antigo jogador e treinador do Casa Pia e do Benfica, ex-seleccionador nacional, fundador do jornal “A Bola”, uma das figuras maiores do futebol português, jogou no SCE na época de 1918/19. Era então atleta do Benfica, mas como passava por motivos profissionais mais tempo no Porto do que em Lisboa pôde jogar essa época no SCE. Na sua correspondência com Joaquim Moreira da Costa Júnior, o mestre Cândido de Oliveira recorda com emoção o tempo passado entre os “vareiros”

Segundo relato do jornalista Alberto Valente, que foi atleta do clube, começou por utilizar-se “o antigo Campo das Rolhas e um outro fronteiriço à Fábrica Brandão Gomes”. Jogou-se depois no Campo da Feira (actualmente Parque João de Deus). Foi em 1922 que o clube viria a arrematar, em hasta pública, o terreno onde seria construído o Campo da Avenida (depois Estádio Comendador Manuel de Oliveira Violas).

Antes de ajudar a fundar a Associação de Futebol de Aveiro, o SCE participava nas provas da Associação de Futebol do Porto. Assim, em 1918 participou na Taça de Honra, prova reservada às quatro melhores equipas, defrontando o FC Porto, Boavista e Salgueiros.

O SCE eliminou o Boavista e garantiu a presença na final, com o Salgueiros. O jogo decisivo estava marcado para o Campo de Ramalde, mas no mesmo dia ia realizar-se uma corrida de touros na Areosa, pelo que o Salgueiros pediu o adiamento do jogo, o que não foi atendido pela Associação de Futebol do Porto, que acabou por atribuir a vitória ao SCE, alegando falta de comparência do adversário.

Estreia na 1.ª divisão: os capitães Gonçalves e Eusébio

[Estreia na 1.ª divisão: os capitães Gonçalves e Eusébio]

Mas ganhar na secretaria nunca fez parte do espírito tigre. Por isso, o SCE propôs ao Salgueiros, que aceitou, a realização da final a 25 de Agosto de 1918, no Campo da Feira. O SCE venceu por 4-0 e conferiu assim mais legitimidade ao troféu já na sua posse.

O SCE subiu pela primeira vez ao escalão máximo do futebol nacional em 1973/74, na presidência de Lito Gomes de Almeida, pai do actual presidente da Direcção, Bernardo Gomes de Almeida. Nesta modalidade, entre outros feitos, o SCE venceu uma edição da Taça Ribeiro dos Reis, em 1967, conquistou o título de campeão nacional da 2.ª Divisão em 1991/92, e disputou por 11 vezes o escalão principal, com algumas classificações meritórias, como um 6.º lugar (1987/88) e um 7.º lugar (1979/80).

 

Uma potência do Voleibol

Os primeiros campeões nacionais (1957). De pé, a contar da esquerda: Teixeira, Bouçon, Bico, Carlos Ferreira, António Neves, Joaquim Cadinha, Valdemar Bodas e João Quinta; em baixo, pela mesma ordem: Alcobia, A. Andrade, Figueiredo, J. Moreira, Walter Brandão, Morado, Natário e Carlos Padrão.

[Os primeiros campeões nacionais (1957). De pé, a contar da esquerda: Teixeira, Bouçon, Bico, Carlos Ferreira, António Neves, Joaquim Cadinha, Valdemar Bodas e João Quinta; em baixo, pela mesma ordem: Alcobia, A. Andrade, Figueiredo, J. Moreira, Walter Brandão, Morado, Natário e Carlos Padrão]

Em Voleibol, o SCE afirmou-se há muito como a maior potência desportiva portuguesa. O clube já conquistou 18 campeonatos nacionais, 11 Taças de Portugal, 4 Supertaças e 1 Top Teams Cup, sendo por isso o único clube português da modalidade com um título europeu.

A secção de Voleibol foi criada em 1939, por sugestão de Alberto Valente, aproveitando-se o trabalho desenvolvido na Mocidade Portuguesa e nos Colégios de S. Luís e de Nossa Senhora da Conceição.

O clube desenvolveu desde aí a melhor escola de voleibol portuguesa, contribuindo para que a cidade possa ser conhecida como a “capital do voleibol”.

Além de ser o clube português com melhor palmarés, foi o único que até hoje conquistou um título europeu da modalidade: a Top Teams Cup, segunda competição de clubes mais importante da Europa. Isso aconteceu em 2001, na Turquia, com uma vitória na final frente à equipa russa do Izumrud Ekaterinburg por 3-2. Sem dúvida a página mais brilhante do voleibol português! Como é hábito no SCE, foram aí utilizados vários jogadores espinhenses formados no clube, como Miguel Maia, João Brenha, Hugo Ribeiro e José Pedrosa.

 

 A celebração da vitória na Top Teams Cup de 2001, o 1.º título europeu de voleibol conquistado por uma equipa portuguesa

António Leitão e a medalha olímpica

António Leitão, talvez o maior atleta espinhense de todos os tempos

António Leitão, um dos maiores atletas portugueses de sempre, formou-se no SCE. Em 1977, ainda juvenil, conseguiu os mínimos nos 5000 metros para o Europeu de Juniores. Em 1979, conquista a medalha de bronze nos 1500 metros do Europeu de Juniores e, três anos depois, com apenas 22 anos, vence a prova de 5000 metros do importante Meeting de Rieti, em Itália, com o extraordinário tempo de 13m07,70s.
Ainda hoje é seu o recorde nacional dos 3000 metros, que bateu em Bruxelas em 1983, com a marca de 7m39,69s. Em 1984, António Leitão viria a conquistar a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, na prova de 5000 metros.

Um clube com futuro

Actualmente, o SCE tem em actividade cerca de 1000 atletas nas diferentes modalidades e escalões. O clube celebra agora o seu 110.º aniversário. Não existirá outro clube português de um concelho tão pequeno que possa apresentar um palmarés tão rico. Trata-se de uma história digna e briosa para uma colectividade que, apesar de lutar sempre com dificuldades e de dispor de um campo de recrutamento necessariamente limitado, formou e ajudou a formar dezenas de atletas internacionais e olímpicos, como António Leitão e Vanessa Fernandes (atletismo), António Jesus, Jaime Alves e Fernando Couto (futebol), Miguel Maia e João Brenha (voleibol), Rui Rocha (andebol), entre outros. O SCE tem hoje em actividade as secções de Futebol, Voleibol, Andebol, Atletismo, Boccia, Boxe, Dança Desportiva, Ginástica, Natação e Triatlo. Apesar de todas as contrariedades, é um clube com futuro.
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